terça-feira, 27 de setembro de 2016

XVI O Primeiro de Dezembro


Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz-
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grecia, Roma, Cristandade,
Europa- os quatro se vão
Para onde vae toda edade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu Dom Sebastião?

Hoje é sempre o primeiro dia do resto da minha vida coletiva. Chama-se Francisco Velasco Gouveia, chama-se João Pinto Ribeiro, chama-se Padre António Vieira, chama-se Fernando Pessoa, sobretudo, aqui, neste templo, nesta pátria, neste dia, o do octogésimo aniversário da edição de Men Agitat Molem, um ano antes da lei de extinção da NÃO, um ano antes da morte do Mestre. Foi quando voltámos à procura de uma república maior, a do Portugal político, com vontade de ser independente. Foi quando transformámos as Atas das Cortes de Lamego, as apócrifas, dos alcobacenses, em lei fundamental. Nós somos livres, o nosso rei é livre. Fez-se, por causa disso, o Brasil. Ganhámos 28 anos de guerra a uma das maiores potências militares da Europa, aliada ao Papa. Agora, falta cumprir-se Portugal. Mesmo que Velasco e Vieira tenham de novo passar pelas garras da Inquisição.

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