segunda-feira, 26 de setembro de 2016

XIII Apresentação de "Introdução à Maçonaria" de António Arnaut (7ª ed.)




No princípio estão os princípios. Ou a Santa Causa da Liberdade.

… não é outro o fim da Maçonaria senão unir os homens todos, fazer que, onde quer que chegue, um homem ache irmãos seus, que o reconheçam por tal, que o amparem, que o socorram, que o agasalhem
Almeida Garrett, carta ao irmão, de 20 de Junho de 1822 (AA 91, obra apresentada)

Coimbra, 13 de Outubro de 2013

Cabe-me a honra de lançar algumas palavras a propósito do lançamento da 7ª edição da “Introdução à Maçonaria” de António Arnaut. Tarefa árdua. Primeiro, pelo autor, que se gosta de qualificar como “advogado e político”, mas que tem como primeira obra publicada um livro de poesia (1954) e que qualificam como “socialista, republicano e laico”. Porque o apresentador não é socialista, nem republicano, nem agnóstico, mas assumido liberal, continuadamente monárquico e panteísta e vem aqui dizer o exato contrário do que António Arnaut refere no seu prefácio, quando diz que “este livro não é mais do que pretende: uma simples introdução ao conhecimento da maçonaria”.

O que é obviamente mentira, porque se trata de uma manifesto de autenticidade de uma geração dos pais-fundadores deste regime que assumiram em regeneração a herança e a razão prática da mais antiga organização democrática portuguesa, assumindo-a, não como mera coisa de antiquário, em defesa de um património cultural a guardar em museu, mas como metáfora viva e palavra cívica mobilizadora da comunidade ou república.

A verdade não está nas palavras, que muitas vezes traem o pensamento, mas na essência das coisas e dos seres, cuja intimidade só o silêncio reflexivo permite penetrar. O silêncio é a eloquência da vida (AA 83).

Venho aqui apenas como Irmão 
Porque falta ainda muita viagem por cumprir para tratarmos o outro como o próximo, o vizinho, o conterrâneo, o compatriota, o irmão. Sobretudo, quando, para muitos donos do poder, o pensamento passou a ser argumento retórico da ordem estabelecida (posita in civitate), perdendo o Norte da justiça, e a raiz da pátria. Isto é, padece de universalismo e de tradição.

A Ordem Maçónica é um espaço de diálogo fraterno entre pessoas de todas as ideologias democráticas (AA 11)

A verdadeira ordem é a ordem justa. Onde o direito tem de voltar a ser o fundamento, o limite e o fim do poder (como disse em 2005).

No princípio estão os princípios 
Porque no princípio, estão os princípios, aquela procura da felicidade que é ir além da autarquia, a que apenas visa o bem-estar e a segurança, em busca da boa sociedade, a que é norteada pela justiça. Uma polis suficientemente grande para gerar governabilidade, e suficientemente pequena para permitir a cidadania/participação. Para conciliar o poder e a liberdade, a comunidade e o amor (2005).

Ao longo da História….os Maçons cometeram muitos erros e, alguns, adoraram mesmo o bezerro de ouro …  (AA 11).

Política, direito e economia 
Política, direito e economia são parcelas de uma mesma ciência da ordem, enquanto ciência arquitetónica. Onde a procura da verdadeira ordem impõe que se vá além da mera ordenação da conjuntura. Porque existe o perigo das elites espiritualmente imaturas, sem rigor espiritual e sem disciplina analítica. Onde a doxa veste o hábito da episteme. Porque o hábito não faz o monge e o palavrar demagógico salta para fora da polis (2005).

A verdade 
A verdade só vem dos que aprenderam a pensar pela conversão interior. Porque, se eu disser ordem, posso pensar no mero ordinalismo autoritário da ordem externa, da ordem pela ordem, do mero equilíbrio mecânico de um status, de um situacionismo que nos dê segurança sem justiça, como o salus populi leviatânico, da Razão de Estado ou do desenvolvimentismo (2005).

A Maçonaria foi perseguida e caluniada  (AA10).

Procura da ordem 
A terapia da procura da ordem implica a abertura amorosa da alma ao fundamento da sua ordem, que está além do modelo decretino das grandes ideias em sistema. Há, portanto, que denunciar o domínio da ciência da política pelo método empírico-analítico de um sociologismo neopositivista, justificado pelas ilusões da hiperinformação contemporânea (2005).

Ditadura dos perguntadores 
Há que recusar as proibições do perguntar, esse fechamento contra a ratio. Que equivale a uma desordem. Porque a ditadura dos perguntadores apenas nos permite a ratificação plebiscitária. Há que ser contra a ideia do homem como objeto em construção, dessa ilusão de um homem novo contra o homem de sempre (Leonardo Coimbra), nesse desfazer o mistério do transcendente, decretando-se uma ideologia segundo a qual o homem solitário pode ser maître et seigneur de la nature (2005).

O maçon constrói o seu futuro tornando-se um homem melhor. A Maçonaria constrói o futuro da Humanidade, tornando-se mais justa e perfeita (AA 15).

A invenção da política 
Há que rejeitar o método da pirâmide conceitual que nos faz engenheiros de definições e conceitos supra-infra-ordenados, dependentes de um qualquer vértice ideológico, concebido como matriz. Logo, importa denunciar a redução da razão ao estreito racionalismo, essa impostura intelectual da não-essência e da não-sabedoria. Porque a consequência é uma ideia de revolução do processo histórico. Dos amanhãs que cantam. Das vanguardas. Da intelligentzia. Onde a linguagem pode ser filosófica, mas não a sua substância e não a sua intenção.

Comte, Marx e Nietzsche 
Os três subsolos filosóficos no século XIX (Comte, Marx e Nietzsche) produziram as sete principais ideologias no século XX (Progressismo, Positivismo, Marxismo, Psicanálise, Comunismo, Fascismo e Nazismo) que, paradoxalmente, geraram movimentos de massas de elites, porque os intelectuais podem ser massificados, nessa identificação entre gnósticos e revolucionários (2005).

Da Razão de Estado ao Estado-razão 
O Estado deixou de ser Razão de Estado e tornou a ser Estado-Razão e o direito passou do decreto do vertical absolutismo à lei vinda do povo. Até porque também nunca houve povo no poder e, consequentemente, democracia. Não houve nem vai haver. Ontem e hoje. Aqui e em qualquer lado, onde haja o dever ser que é a chamamos justiça e que não se confunde com o burocrata que diz ser ele esse serviço em figura humana (2009).

É preciso “quebrantar” essas cadeias e “desagrilhoar Prometeu”, como disse António Sérgio (AA 73)

N'ayez pas peur 
Quando uma determinada sociedade se organiza politicamente, têm de surgir regras básicas, ou estatutos fundamentais, verbalmente formalizados ou não, que regulem o modelo orgânico de comunidades políticas. Isto é, tal como onde está a sociedade está o direito (ubi societas, ibi jus), eis que onde está o político tem de estar um estatuto jurídico do político (Castanheira Neves), tem de existir uma constituição, expressão que, sem esforço, podemos fazer equivaler tanto à politeia grega como às antigas leis fundamentais das comunidades políticas pré-modernas (2006).

Ideia de luta pela constituição 
Há uma ideia de luta pela Constituição, enquanto procura de um fundamento para o poder e para a fixação de concretos limites do respetivo exercício, que se perde nas raízes da nossa civilização ocidental e se identifica com a própria liberdade europeia, traduzindo um longo processo de institucionalização do poder e de juridificação da política. Por isso, pouco me interessa essa tarefa minúscula e platónica de fabricar Constituições... de que falava Basílio Teles, com a consequente glorificação quase necrológica de constituintes e constitucionalistas, porque é mais importante a criatura do que os eventuais criadores. Porque, nestes trinta anos, a principal homenagem que devemos prestar não é ao texto, mas antes ao espírito que o produziu e que, comunitariamente, o consolidou, neste péssimo regime que, contudo, é o menos péssimo de todos quantos temos experimentado (2006).

Não tenhais medo 
Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, parafraseando Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projeto de Étienne la Boétie: n'ayez pas peur, na servitude volontaire o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhe dá, um poder que vem da volonté de servir das multidões que ficam fascinadas e seduzidas por um só (2006).

Num tempo despojado de valores ético-sociais, dominado por um capitalismo infrene, sem alma nem regras, que enredou o homem em novas e mais sofisticadas servidões, o que pode e deve fazer a Ordem maçónica para transformar o mundo de selvagem em humano? (AA 74).

A raiz moral da política 
A raiz essencial de qualquer comunidade política é a ciência dos atos do homem como indivíduo, a chamada moral, segundo a qual a principal regra social é a autonomia, aquela que cada um cria, para si, e para os seus, e que está sujeita ao simples tribunal da consciência e à sanção do remorso, tendo como principal constituição o exemplo de vida que a conduta pessoal de cada um deve inspirar. A tal coisa a que Kant chamou imperativo categórico, a razão prática que pode transformar as nossas condutas numa espécie de lei universal (2006).

Quando as regras são espontaneamente cumpridas 
Não devemos trazer para a praça pública aquilo que, para ser eficaz, não deve sair do espaço da intimidade familiar e, muito menos, passá-lo para os adros da igreja ou para o largo do pelourinho. Como jurista que continuo a ser, embora dessa ciência não faça modo de vida, até diria que a melhor sociedade é aquela onde todas as regras são espontaneamente cumpridas, onde as tais questões de consciência não precisam do chanfalho da guarda, dos manuais e códigos de processo penal e das grades prisionais (2006).

Mínimo ético 
O direito não é a vida. Cobre apenas o espaço das relações jurídicas, isto é, daquela minoria das relações sociais, as que são legislativamente selecionadas, e coativamente protegidas, pelo monopólio da violência legítima a que se chama Estado (Max Weber). Logo, a licitude nem sequer corresponde ao tal mínimo ético, dessa ilusão de deixarmos para os detentores do poder a definição de códigos de conduta que devem caber apenas às autonomias individuais e grupais e são insuscetíveis de captura pelo decretino, pelo que vêm do vértice para a planície dos súbditos (2009).

Moral e direito 
Moral e direito não são círculos concêntricos, apenas coincidem nalguns segmentos. Aqui e agora foram totalmente confundidos pela vídeopoder. E às vezes, até continuam a ser medidos pelos preconceitos do racismo social e castífero que nos encarquilha (2009).

O livre pensamento e a tolerância são conquistas da civilização que a Maçonaria ajudou a consolidar. E são, verdadeiramente, valores cristãos essenciais à convivência e à paz social (AA 72)

Homem religioso 
Sendo um homem religioso, mas sem Igreja, nada ateísta e pouco agnóstico, mantenho o panteísmo de Espinosa, Kant, Krause e Ahrens, isto é, de velho liberal. Sinto pertencer a um mundo antigo que pode ser amanhã, quando as unidades político-culturais voltarem a ser feitas de muitas diferenças; a pátria, de muitas pequenas pátrias; e um povo, de muitos povos (2009).

Seitas 
As seitas não passam de rebanhos de diletos de um abstrato super-senhor e apenas reagem a exterioridades, mesmo que se disfarcem em rituais, sobretudo quando estes perderam o sentido litúrgico. Nas seitas já não há sacerdotes, mas apenas sacristães e sacristas. Nem sequer há mestres, mas apenas lentes, repetidores da vulgata, tornando-se movimentos que procuram assumir o monopólio do espírito, da vida e do próprio bem, só porque alguns exibem uma contrafacção da chave da verdade, dizendo ser o caminho (2009).

Catecismos unicitários 
Odeio catecismos e formulários, bem como os seminaristas de cordel que procuram transformar-se em cardeais da propaganda da falsa fé e comandantes de uma nova Inquisição que nos quer a todos relaxar para o braço secular da persiganga. Os que retomam a hermenêutica disciplinada da unicidade, preferem a liturgia da subserviência, à religiosidade da libertação. Até nem compreendem que só há pátria quando se cultivam as complexas heranças que nos sagraram o chão moral da história e da terra dos mortos, com as suas árvores, catedrais, rios, cabos e montes (2009).

Pode-se eliminar as pessoas, e algumas foram mesmo eliminadas, e destruir os bens, mas não podem erradicar as ideias, sobretudo as ideias generosas que visam a libertação do homem, e são tão velhas como a própria Humanidade (AA 58)
 umaniHuman


Heresia 
A heresia continua a ser a única forma criativa de fecundarmos esta encruzilhada repleta de dejetos exotéricos. Porque a revolta individual, dos que procuram, é o que mais se aproxima daquela imagem e semelhança de um homem qualquer, como ser que nunca se repete, vivendo circunstâncias que também nunca são iguais (2009).

Heterodoxia 
Há um Deus que pode nascer, todos os dias, dentro de cada um de nós. Porque, às vezes, é na rebeldia que está a lealdade, nessa suprema ortodoxia do heterodoxo, do que não quer perder-se no rebanho seguidista. Deus pode ser o mundo e haver mais mundos, sobretudo aqueles que continuam a criação, dando novos mundos ao mundo (2009).

Moralização da política 
A pior das crises políticas é aquela onde nem sequer é possível uma consensualização quanto às próprias causas da situação, pelo que pode ter de tomar-se um remédio que alivia a dor, mas mantém a epidemia. Também no último quartel do século XIX, nos enrodilhámos em decadência e a crise levou décadas, infestando a República. Todos os sinais que nos chegam apontam para que se mantenha esta anarquia mansa e apenas se dê nova forma à permanente ditadura da incompetência. E isto porque não assumimos a necessidade de uma efetiva moralização da política (2005). 

Homem de sucesso da amoralidade 
Desde que o hobbesiano homem de sucesso passou a balbuciar o falso evangelho de um certo olitiques, onde se considera que tem razão quem vence, criou-se, não uma imoralidade generalizada dos detentores de cargos políticos, mas uma efetiva amoralidade, a que deram o nome de política pura (2005).
A maçonaria congrega homens livres de várias correntes democráticas, empenhadas na defesa dos nobres valores que são o santo-e-senha da sua força ancestral, e o cimento aglutinador para a construção do futuro (AA 59).

Memória e valores 
Um povo é uma comunidade de significações partilhadas (Karl Deutsch) e uma pátria, uma comunhão em torno das coisas que se amam (Santo Agostinho), tal como a autonomia é a soma da memória com os valores. Daí que o verdadeiro poder político seja um complexo de práticas materiais e simbólicas destinadas à produção do consenso (Max Weber) (2006).
Misticismo 
Logo, alma da nação, que tanto pode ser a alma nacional da revista republicana de António José de Almeida, surgida em 1910, como as contemporâneas alma lusitana, de Teixeira de Pascoaes, ou a pré-integralista e ultramonárquica alma portuguesa, nascida pouco depois, no exílio belga de Luís de Almeida Braga. A história imaginada é mais ativa do que a história objetiva. Porque todos os povos fabricam uma representação histórica da sua própria personalidade, para justificarem a existência de comunidades de sonhos (2006).

Símbolo e cultura 
A pátria não é apenas a ideologia que justifica a ordem estabelecida, ou a utopia que a subverte, mas a terceira potência da alma (Platão), a imaginação, que vai além da razão e da vontade. Porque o tal imaginário atravessa o discurso racional, ordena o respetivo simbolismo e desconstrói a sua pretensa lógica. Porque quando penso que penso, não sou apenas o eu que pensa, mas também os que pensaram antes de mim, para que eu me sinta pequena onda de uma corrente que me ultrapassa (2006).

Como a qualidade de maçon constituía currículo preferencial para aceder aos altos cargos do governo, do parlamento e da administração, começaram a ingressar na Ordem muitos políticos oportunistas, sem espírito maçónico. A história haveria de repetir-se após a Revolução de Abril de 1974 (AA 56)


O direito, a política e a justiça 
Sinto o apelo para a reconstrução de uma ciência da polis capaz de procurar o bonum honestum, essa união de esforços que, entre outras coisas, investigue a paz pelo direito, a moralização da política, o reencontro do homem com o cosmos, e, quiçá, a religação com Deus (2007).

Justiça 
O direito, a política e, consequentemente, a ciência jurídica e a ciência política, são filhas de uma unitária ciência da polis, mobilizada em torno de um valor supremo: a justiça. Assim, todos aqueles que procuram ser fiéis às raízes greco-latinas da liberdade europeia e se assumem como herdeiros tanto do humanismo cristão como do humanismo laico do ius publicum europeu, não podem deixar de cultivar esses terrenos de fronteira (2007).

Juridificação da política 
O próprio Estado de Direito, quando proclama que o direito é o fundamento e o limite do poder, exprime essa necessária mobilização entre todos os que estudam os problemas do direito e do político e tendem a professar a deontologia justicialista que deles emana. Parafraseando Blandine Kriegel, podemos dizer que, em virtude da interpenetração entre o direito e a política, porque o direito quer juridificar a política e institucionalizar o poder, eis que o jurista encontra a política quando procura o direito, tal como o politólogo depara com o direito quando procura a política, pelo que urge pensar a política em termos de direito e descobrir que a mesma política é objecto do direito (2007).

Cosmos 
Aquilo a que muitos hoje chamam direito era, na Grécia antiga, identificado com a política, isto é, que o poder organizado, numa boa sociedade, tem necessariamente de ser ordenado por um direito que seja superior ao poder. Talvez haja uma homologia entre o direito, a política e o próprio sagrado. Porque todos procuram uma ordem que os unifica, a ordo rerum, o kosmos. Norteia-nos, com efeito, aquela base neoclássica que tenta decifrar o mistério das tais ordens que emergem de processos autoconstituintes residentes no interior das sociedades. Tem sempre presente que não és responsável pelo mal que fizeres, mas pelo bem que deixastes de fazer. Faz o bem pelo amor do próprio bem (2007).

…congregando a Maçonaria pessoas de todas as ideologias democráticas, não deve, como tal, intrometer-se na vida político-partidária, como aliás, resulta imperativamente da Constituição em vigor (AA 51)


Quanto mais poético, mais real 
Os merceeiros e os enjoados, que nos condicionam, não assumem que é possível subverter a realidade através da metalinguagem e das erráticas metáforas. Não compreendem esse quanto mais poético, mais real, cantado por Novalis. Porque a via do transcendente sempre esteve mais situada nas circunstâncias do lugar e do tempo, do que as utopias e ucronias, em que se enreda o pretenso cientismo, aquele que determina só existir aquilo que se pode medir, como as rígidas réguas dos paradigmas, sempre ultrapassáveis (2011).

Lume da profecia 
Quem procura manejar o lume da profecia, sem o fazer esvoaçar fora do lume da razão, conforme expressões do Padre António Vieira, vive sempre fora do tempo dominante, sobretudo quando tenta conjugar o eterno, longe dos que se enredam no paralelogramo de forças do passado, sem as necessárias saudades de futuro. Não subscrevem aquele dito do mesmo jesuíta da Restauração, segundo o qual só há o verdadeiro fora do tempo. Ou melhor: fora daquilo que os donos do poder absoluto e da pretensa ciência certa decretam como suas verdades incontestáveis (2011).

Pensar é dizer não 
A realidade sempre foi subvertida pelas autonomias, pessoais e comunitárias, quando estas assumem que, no princípio, tem de estar o fim, o tal dever ser que é, das essências que apenas se realizam pelas existências. Todos os decretinos processadores, em nome da ideologia ou do vértice hierárquico, do ministerialismo, com os seus sucedâneos, diretoristas, presidencialistas ou rectorísticos, temem os que praticam o pensar é dizer não, como dizia Alain. Ou que a revolta é bem mais fecunda que a revolução, como vai acrescentar Albert Camus (2011).

… a própria Maçonaria deve, em casos excecionais, ter uma intervenção pública, sempre discreta e moralmente irrepreensível. Quando estão em causa direitos humanos fundamentais, a identidade nacional, a cidadania, ou a falta de ética política com as inevitáveis consequências do nepotismo, corrupção e degradação das instituições, impõe-se uma palavra avisada e justa, em coerência com os valores que sustentam as colunas do Templo (AA 40).

Resistência individual 
Quem experimentou as garras do saneamento e do processamento da persiganga não pode admitir que o rolo unidimensional do conformismo nos faça enjoar, sobretudo nesta praia da Europa que sempre foi partida para todas as sete partidas. O sinal do nosso futuro continua a passar pela resistência individual e pelo pensamento crítico da liberdade. A essência do homem ocidental sempre foi o individual do indiviso, que é expressão da fundamental dignidade da pessoa humana. Mesmo quando se rejeitam as normalizações impostas pelos pretensos antidogmáticos, neodogmáticos, como esses que, perante certo situacionismo, proclamam que têm o monopólio da contestação e assim nos desmobilizam. Os bobos da demagogia, da tirania e da mentira podem alimentar-se desses irmãos-inimigos. Quem quiser continuar mesmo do contra tem que procurar o mais além e antecipar o tempo da revolta (2011).

…o conteúdo do segredo não é tanto o que se vê e ouve, mas o que se sente (AA 38).


Ordem verdadeira 
A opinião dominante, nem por dominar, deixa de ser conjuntural. E a ordem verdadeira não pode estar dependente da flutuação em torno do ideal conjuntural da sociedade, como ensinava Leo Strauss. Porque tem de haver um padrão superior à opinião dominante, mesmo que esta seja uma justificável aliança dos mais débeis contra a injusta dominação dos mais fortes. Ama os bons, anima os fracos, foge dos maus, mas não odeies ninguém (2007).

Lei universal do justo e do injusto 
Há uma lei universal do justo e do injusto, um padrão que não serve apenas para aferir da validade do direito estabelecido, posto, positivo, mas algo mais global, que também é mais elevado que o ideal mutável da nossa sociedade. Há no homem qualquer coisa que não está sujeita à sua sociedade e, por conseguinte, somos capazes, e portanto, obrigados, a procurar um padrão que nos permita julgar o ideal da nossa sociedade ou de qualquer outra (2007).

Conceito socrático de natureza 
O padrão que talvez corresponda ao conceito socrático de natureza, a coisa na sua inteireza ou perfeição. E até se não identifica com a ideia de ser bom aquilo que é antigo, dado que este tipo de natureza é sempre mais antigo do que aquilo que foi estabelecido pelos fundadores de uma determinada comunidade, prendendo-se com a própria ordem eterna. Escuta a voz da natureza, que te brada: todos os homens são iguais: todos constituem uma única família (2007).

Há uma argamassa que, desde há milénios, sustenta simbolicamente o Templo de Salomão – a procura da palavra perdida (AA 39)

O direito da razão 
Neste sentido, o direito da razão é sempre equivalente à procura do melhor regime (politeia ou respublica), contrariando certa tendência da modernidade, de extração maquiavélica, que considerando a realização como altamente improvável, tratou de baixar os níveis e de considerar que o dever ser poderia ser realizado em qualquer parte. Procede sempre de forma que a razão fique do teu lado (2007).

Em nome de mestre Rousseau 
Muitos dos que vivem da faturação protetiva de anarquia ordenada, em nome de um securitário de pronto-a-vestir, estão agora a dizer que a democracia corre o risco de ficar dependente da vontade das maiorias, atirando a culpa para o velho Jean-Jacques, conforme rezam algumas vulgatas contrarrevolucionárias, as dos tradicionais inimigos da mesma democracia (2008).

Vontade geral 
Admirador incontido do Contrato Social, uma das maravilhas da teoria política, resta-me reler as interpretações que dele fazem um Eric Weil, reconciliando-o com Hegel, ou um Karl Deutsch, que o faz conjugar com Kant. Até em Portugal, o nosso melhor teórico da democracia do século XX, António Sérgio, retomando a senda, não deixou de assinalar a enorme diferença que vai da quantitativa vontade de todos, quando todos decidem motivados pelo interesse de cada um, à sagrada vontade geral, a única que deveria ser verdadeiramente soberana. Quando cada um, ascendendo ao todo, através de uma conversão cívica, abdica dos seus interesses, transformando a sua própria conduta num exemplo moral, numa máxima universal, naquilo que Kant, o verdadeiro discípulo de Rousseau, vai qualificar como o imperativo categórico (2008).

Autonomia individual 
A verdadeira democracia só existe quando, através da liberdade do indivíduo, este lhe dá as raízes morais da sua própria autonomia. Logo, não há democracia sem esse esforço de cada um dar regras a si mesmo, no sentido de procura da perfeição e da consequente compreensão da coisa pública como um moi commun. Moraliza pelo exemplo; sê obsequioso; tolera todas as crenças e todos os cultos, mas tem por dever lutar contra a superstição, o fanatismo e a reação, como os mais resistentes obstáculos ao progresso humano (2008).

Liberdade, igualdade, fraternidade 
É dessa sucessão de decisões individuais, onde cada um se assume como o todo, que nasce a norma fundamental das comunidades políticas democráticas, casando-se o impulso liberdadeiro com o profundíssimo sentido da igualdade, através daquela comunhão identitária que é exigida pela virtude da fraternidade. Sempre foi este o sonho girondino que o ativismo minoritário de certos jacobinos procurou dissipar com o curto-circuito do Terror e, depois, com a usurpação bonapartista. Foi esta a revolução francesa que triunfou a partir de 1815 com a moderação cartista da balança de poderes, ou com a Revolução de Julho de 1830, quando a racionalidade liberal se conciliou definitivamente com a procura maioritária da igualdade (2008).


Pluralismo e demoliberalismo 
Mais não dizem os recentes consensos das democracias pluralistas, entre a poliarquia, o sufrágio universal e o Estado de Direito, conforme também subscreveram um John Rawls ou um Jűrgen Habermas, já depois da queda do Muro. Isto é, a democracia há muito que é demoliberal, com séculos de experimentação e de conciliação da revolução atlântica com velhos contraditores, como o foram, a partir de 1848, o socialismo e a democracia cristã. E como o poderão ser ex-comunistas e ex-fascistas, se tiverem a humildade de, para tanto, contribuírem, pelo exemplo de vida cívica (2008).

O melhor regime 
Não haverá democracia como valor universal se não reinterpretarmos o sentido regulativo do contrato social de Rousseau, à boa maneira da procura do melhor regime (politeia) de Platão, ou da ideia romana de república, segundo o ritmo de Cícero. Foi o que semeou São Tomás de Aquino, até que Leão XIII emitiu a Rerum Novarum, mas em 15 de Maio de 1891 (2008).

Civilizações universais 
Porque todas as civilizações universais são filosoficamente contemporâneas no intemporal, todas têm as mesmas raízes do político e todas podem encontrar experimentações similares, em termos de mais liberdade, mais igualdade e mais fraternidade. Se houver homens que admitam o regresso dos deuses do espírito às nossas cidades antigas, pode voltar a ser conjugado o velho princípio tomista do QOT, adotado pelas Cortes de Coimbra em 1385: o que a todos diz respeito, por todos deve ser decidido (2008).

Natureza das coisas 
Os únicos realistas em Portugal são os adeptos do trancendentalismo da matéria, aqueles ideais-realistas que seguem a natureza das coisas. Porque o natural sempre foi o mesmo do que o dever ser, onde, segundo o conceito grego e jusracionalista, natureza é sinónimo de razão, de procura da perfeição e do melhor regime (2005).

Teórico 
O teórico é apenas o homem maduro, isto é, o que repensa pela própria cabeça o pensamento dos outros, o que compreende, prendendo uma coisa com outra, folha com folha, árvore com árvore, para poder ter a intuição da essência daquilo que é todo, mesmo que seja a alma da floresta (2005).

Polícias de ideias, nunca mais! 
Já não está em vigor o conceito sovietista de contrarrevolucionário, com direito a ingresso no Gulag, ou do hitleriano Gegenreich, com bilhete para o exílio ou para o campo de concentração. Contudo, estamos a assistir à tradução em calão de movimentos exógenos, como consequência da própria integração europeia, invocando-se nacionalismos estrangeirados, contrários à ecologia da pátria portuguesa (2010).

Intolerância, fanatismo e ignorância 
A sociedade pluralista e aberta do atual Estado de Direito assenta em valores que têm como adversários a intolerância, o fanatismo e a ignorância, mas nem por isso pode proibir ideias que defendam os mesmos antivalores. Porque houve ilustres filósofos e pensadores adeptos do totalitarismo no século XX e seria estúpido passá-los pelo silêncio (2010).

Partidocracia 
A democracia pode ser usurpada pela partidocracia, uma gangrena do Estado (Lorenzo Caboara), e tal sistema enredar o regime, especialmente quando somos marcados pelo abuso de posição dominante dos representantes das principais multinacionais partidárias da Europa... (2010).

TINA 
Se, com a vitória da Aliança Democrática, a partir de 1980, encerrámos o fatalismo do partido-sistema da I República, quando Mário Soares e o PS se visionavam como o partido-sistema da revolução institucionalizada, à maneira de Afonso, clamando pela TINA (there is no alternative), mantivemos, contudo, o atavismo de certo rotativismo devorista da monarquia liberal, alimentado pelo patrimonialismo das forças vivas (2010).

Um povo com fome de causas 
O português comum não assume o dever ser como sítio sem lugar (utopia) e sem tempo (ucronia). Prefere o Canto IX d' Os Lusíadas ou uma casa tipo maison, na santa terrinha. Por isso, é um sonhador ativo e está farto de traduções em calão de democracias exógenas. Importa que os partidos dominantes compreendam que há um povo com fome de causas e uma pulsão para a solidariedade. Faltam é engenheiros de sonhos que nos mobilizem e assumam as nossas visões de paraíso bem terráqueas, da procura, no aqui e agora, da beatitude celeste, como Sérgio Buarque de Holanda caracterizou aquele que Manuel Bandeira qualificou como o português à solta (2010).

Pensar é resistir 
Pensar é resistir, ter a coragem de ser minoria, assumindo a atitude daquele que, para estar de acordo consigo mesmo, tem, por vezes, que entrar em desacordo com todos os outros, não para épater le bourgeois, mas para servir a comunidade, mesmo que esta o não reconheça no seu próprio tempo de vida. Sabe bem podermos subir ao nível das discussões filosóficas, assentes na mera observação quotidiana, sem qualquer pretensiosismo de academia ou de salão, nesse falar assente na refletida experiência do bom senso (2011).

Emoção 
Se o fundamento da moral é a coerência, o da sociabilidade não pode deixar de ser a igualdade. Porque a melhor plataforma de identidade assenta em gestos de ternura. Quando a corrente que bilateralmente nos enlaça procura apetecer que tudo seja para sempre (2011).

Ser radical 
Confesso meu temperamento de radical que se apaixona por causas e não entende a racionalidade como um afrouxar das emoções. Como se os cinzentos de sempre, como subalternos dos pelotões de fuzilamento, pudessem, alguma vez, ter o prazer da criação. Porque não há direita, esquerda, extremos ou meio-termo. Há vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de quem perdeu (2009).

Peregrino 
Um peregrino, errante, nunca é apenas quem pensa que é, mesmo dizendo que é isto ou outra coisa. É caminho de mais longa corrente, em que se dilui e perde, para se sentir eterno. Não é apenas deste horizonte, mas também de outros que sentiram em seu outrora o que, com outros, se sente, aqui e agora. Só assim, em peregrino, se faz semente, no permanecente. A corrente é o que nos prende e liberta, em união que se faz amor. Humildemente. Quando somos comuns, isto é, iguais. Respeita o viajante; auxilia-o; a sua pessoa é sagrada para ti (2012).

Cultura 
Tudo o que é acrescento da cultura é obra humana, isto é, contra natura. Aliás, entre as coisas que Deus fez, não estava a política, um poema, a palavra escrita, ou a internet. Mas estava a liberdade de fazermos regras para as podermos não cumprir, mesmo que Deus não exista, ou nem sequer seja (2012).

Racionalidade axiológica 
Perante a desesperada falta de soluções da racionalidade finalística, importa passear pelo tal lume da profecia, a que Max Weber chamou racionalidade axiológica. O recurso à violência estadual, mesmo na sua forma de guerra, pela qual os homens continuam a optar, é sempre um mau conselho. Não vale a pena escolhermos ainda mais guerra e até visualizarmos esse clímax da violência institucional que é o uso ou a ameaça de uso daquilo a que demos o nome de absolute weapon, coisa que acontece quando alguns têm a ilusão da nova forma de solução final (2006).

Imaginação 
Voltemos à liberdade livre da imaginação como terceira potência da alma (Platão), a que nos treina para a transgressão criativa da rebeldia e da insolência do sonho. As crises de anarquia criativa podem corresponder a incubações que precedem a chegada dessas mudanças dramáticas que se traduzem pela bela quebra de fronteiras entre territórios até então hostis (2006).

Colectivismo moral de seita 
Tudo parece continuar como dantes, entre aqueles resignados cujo destino sempre foi admitir a hierarquia dos filhos e enteados, especialmente quando quem manda depende do levantamento mediático que instrumentaliza o pedibola, ou que faz assentar o financiamento partidário na barganha dos resultados e das arbitragens, nesse conúbio mesquinho onde continua a pagar o justo pelo pecador. E quase apetece passar para o estado de resistência face aos hipócritas e falsários que, refugiados no coletivismo moral de seita em que se inscreveram, nos querem condenar às grades da dependência (2007).

Sociedade de corte 
Os restos da sociedade de corte provindos do salazarismo têm redobrado de atividade. Sabem que o poder em Portugal não é uma coisa que se conquiste, mas uma teia de relações de cumplicidade. Utilizando a linguagem de Michel Foucault, podemos dizer que há uma rede de micropoderes, de poderes centrífugos, locais, familiares e regionais, com uma variedade de conflitos, dotados de articulações horizontais, onde também surge uma articulação vertical, uma integração institucional dos poderes múltiplos tendente para um centro político, para um poder centrípeto (2007).

Poderes difusos 
Entre esses vários micropoderes, feudais e patriarcais, importa salientar os chamados poderes difusos que actuam pela persuasão e pela sedução, onde, para além dos controlos dos meios de comunicação social, há que salientar os gestores de conversas de salão, gabinete e conferências, desses pretensos gurus que, pintando-se de mahatmas, não passam de almas policiescas, ávidas do caceteirismo expurgatório. Por mim, resisto àquilo que Michael Mann qualificou como poder infra-estrutural (2007).

Todos os símbolos são ridículos 
Parafraseando Fernando Pessoa, podemos dizer que todas as cartas de amor são ridículas. Mas mais ridículo ainda é não se conseguir escrever uma carta de amor. Com os símbolos, as pátrias, as religiões e as liturgias, todas ridículas, os que estão de fora até podem dizer o que os chineses diziam dos primeiros portugueses que os visitaram: uns bárbaros, isto é, diabos vermelhos, porque trincavam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), que eles não usavam. Tal como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem e eram adoradores de antigos símbolos de tortura. Por causa da Cruz e das hóstias, ditas corpo do assassinado que ressuscitou. Sem essas e outras coisas ridículas, os homens morreriam todos de frio, por falta de alma. É o que fazem todos os que são marcados pela incompreensão face aos símbolos decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. Não te envergonhes de confessar os teus erros; provarás assim que és hoje mais sensato do que eras ontem e que desejas aperfeiçoar-te (2011).

Símbolos 
Grande parte das coisas políticas tem a ver com as realidades que não se conseguem vislumbrar sem símbolos. E todos os símbolos, como a pátria ou a humanidade, são coisas que se amam. Desde 1717 que qualquer sociedade liberal ou democrática sabe, como alguns proclamados liberais e democratas parecem desconhecer, que uma sociedade secreta iniciática não pode ser uma sociedade secreta política. Sempre que se confundem os planos, de um lado e de outro, há um risco de regresso à tirania (2011).

O sectarismo que monopoliza o sagrado 
Detesto todo o sectarismo que pretende monopolizar o sagrado para a respetiva liturgia e que, fradescamente, semeia a intolerância, insinuando o escárnio face as alfaias que os outros usam para os mesmos fins. Afinal, todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a comunhão e a religação. Contudo, mais ridículos ainda são os que não têm liturgia sentida por dentro, ou os que se ficam pelos sucedâneos e pelas vulgatas de certo dogmatismo pretensamente antidogmático (2011). 

A Maçonaria quer despertar no Homem o sentido do eterno (AA 11)

Verdades eternas
Sobre as verdades eternas, apenas sei que nada sei, restando-me continuar a procura da verdade, pelos variados caminhos que segue aquele que apenas pretende ter a boa vontade de conquistar a glória do homem livre. Porque ninguém pode deter o monopólio do imprimatur e do nihil obstat, para a edição desses manuais de metodologia, com os consequentes livros únicos dos inquisidores, vanguardistas, vigilantes da revolução, ou contínuos e sargentos do senhor diretor (2011).

Um pouco de metapolítica 
Hoje, como todos os dias, quando eles são de viver cada dia como se fosse o último, é dia de nascer de novo, de regenerar, de olhar de frente o sol. Comecemos por abrir as janelas para deixar entrar o ar. Renascer pelos símbolos sempre foi velho conselho de há vinte e cinco séculos. Mesmo que não se resolvam os mistérios. Bom dia, luz, que trazes o irmão sol do meu querido São Francisco! (2009).

Não há liberdade sem metafísica 
Nas democracias pluricentenárias, implantadas por homens livres e de bons costumes, não pode haver sociedades secretas para efeitos políticos e económicos. E aí de quem as confunde com sociedades secretas iniciáticas. Em situações totalitárias e autoritárias, ainda bem que existem sociedades secretas de resistência. E até golpes de Estado libertadores. O verdadeiro culto consiste nos bons costumes e na prática das virtudes (2011).

As grandes crenças universais 
Há dois mil anos e tal que os cristãos, repetindo o que já esboçavam estoicos e confucianos, mandam amar o próximo como a nós mesmos e não fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós. Mas ainda hoje, cada um de nós violou essa norma mínima da faceta moral de todas as grandes religiões e crenças universais. A culpa não está na norma, nem nas organizações que a defendem. Está na natureza do ser humano. Daquele que todos os dias cai, mas que, sem essa norma, não poderia levantar-se (2011).

A democracia como dever ser que é 
Com a democracia, que não é um facto, mas uma norma desse género, passa-se o mesmo. É um dever ser que é, o imperfeito que manda procurar a perfeição. E que aperfeiçoa, pela boa educação. Não há verdadeira liberdade sem metafísica. Nem homem sem transcendente, mesmo na perspetiva ateia. O homem não passa de um transcendente situado que alguns traduzem por transcendente por espírito. Outros também podem dizer Deus ou deuses. Não interessam os nomes. Vale mais a coisa nomeada e sentida por dentro. Sou um homem religioso, mesmo sem religião revelada (2011).


Todos os símbolos são ridículos 
Parafraseando Fernando Pessoa, podemos dizer que todas as cartas de amor são ridículas. Mas mais ridículo ainda é não se conseguir escrever uma carta de amor. Com os símbolos, as pátrias, as religiões e as liturgias, todas ridículas, os que estão de fora até podem dizer o que os chineses diziam dos primeiros portugueses que os visitaram: uns bárbaros, isto é, diabos vermelhos, porque trincavam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), que eles não usavam. Tal como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem e eram adoradores de antigos símbolos de tortura. Por causa da Cruz e das hóstias, ditas corpo do assassinado que ressuscitou. Sem essas e outras coisas ridículas, os homens morreriam todos de frio, por falta de alma. É o que fazem todos os que são marcados pela incompreensão face aos símbolos decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. Não te envergonhes de confessar os teus erros; provarás assim que és hoje mais sensato do que eras ontem e que desejas aperfeiçoar-te (2011).