terça-feira, 27 de setembro de 2016

Discurso de Péricles (gçosa prancha I, ponto 5)



Os Dez Mandamentos da Democracia

Porque só é possível morrer pelas coisas que se amam. Se substituírem o amor de pátria pelos relatórios tecnocráticos, matam-nos!



Começando pelo primeiro discurso sobre a democracia, de Péricles, uns séculos antes de Cristo ter nascido, o que consta da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides, na oração fúnebre em memória de soldados mortos pela pátria, podemos visualizar dez mandamentos para uma eterna teoria da democracia:


Carreiras públicas
I. A progressão nas carreiras públicas deve apenas depender do mérito e da capacidade, mas nunca da origem social.

Vida privada
II. A liberdade deve ser, sobretudo, da vida privada.

Leis e boa educação
III. O respeito pelas leis vem, principalmente, da boa educação.

Jogos e sacrifícios para a recreação do espírito
IV. Importa organizar jogos e sacrifícios para a recreação do espírito.

Elegância das habitações
V. A elegância das habitações ajuda a esquecer as nossas preocupações.

Comércio internacional
VI. Para termos grandeza, devemos atrair produtos de todo o mundo.

Sociedade aberta ao mundo
VII. Devemos abrir-nos a todo o mundo e jamais excluirmos os estrangeiros.

Vida livre no quotidiano
VIII. Devemos viver no quotidiano da forma que mais nos apraz.

Uma educação sem sentido férreo
IX. Não devemos ter o sentido férreo da disciplina na educação

Requinte e virilidade
X. Importa cultivarmos o requinte sem extravagância e as coisas do espírito sem perdermos virilidade.

Trata-se do discurso fundador da democracia, em homenagem aos soldados mortos pela pátria: 
O nosso sistema político não inveja as leis dos nossos vizinhos, pois temos mais de paradigmas para os outros do que de seus imitadores. O seu nome é democracia, pelo facto da direção do Estado não se limitar a poucos, mas se estender à maioria; em relação às questões particulares, há igualdade perante a lei; quanto à consideração social, à medida em que cada um é conceituado, não se lhe dá preferência nas honras públicas pela sua classe, mas pelo seu mérito; nem tão pouco o afastam pela sua pobreza, ou pela obscuridade da sua categoria, se for capaz de fazer algum bem à cidade.

(…) Além disso, pusemos à disposição do espírito muitas possibilidades de nos repousarmos das fadigas. Temos competições e sacrifícios tradicionais pelo ano fora; e usufruímos de belas casas particulares (…). Devido à grandeza da cidade, afluem aqui todos os produtos (…) e acontece que desfrutamos dos bens locais com não menos abundância (…). Em resumo, direi que esta cidade, no seu conjunto, é a escola da Grécia.


Discurso de Péricles, citado por Tucídides em "A Guerra do Peloponeso (século V a.C.)", in Claude Mossé, "As Instituições Gregas", Lisboa, Edições 70, 1985, p. 53