No princípio
estão os princípios. Ou a Santa Causa da Liberdade.
… não é
outro o fim da Maçonaria senão unir os homens todos, fazer que, onde quer que
chegue, um homem ache irmãos seus, que o reconheçam por tal, que o amparem, que
o socorram, que o agasalhem
Almeida Garrett, carta ao irmão, de 20 de Junho de
1822 (AA 91, obra apresentada)
Coimbra, 13 de Outubro de 2013
Cabe-me a honra de lançar algumas palavras a propósito
do lançamento da 7ª edição da “Introdução à Maçonaria” de António Arnaut.
Tarefa árdua. Primeiro, pelo autor, que se gosta de qualificar como “advogado e
político”, mas que tem como primeira obra publicada um livro de poesia (1954) e
que qualificam como “socialista, republicano e laico”. Porque o apresentador
não é socialista, nem republicano, nem agnóstico, mas assumido liberal,
continuadamente monárquico e panteísta e vem aqui dizer o exato contrário do
que António Arnaut refere no seu prefácio, quando diz que “este livro não é
mais do que pretende: uma simples introdução ao conhecimento da maçonaria”.
O que é obviamente mentira, porque se trata de uma
manifesto de autenticidade de uma geração dos pais-fundadores deste regime que
assumiram em regeneração a herança e a razão prática da mais antiga organização
democrática portuguesa, assumindo-a, não como mera coisa de antiquário, em
defesa de um património cultural a guardar em museu, mas como metáfora viva e
palavra cívica mobilizadora da comunidade ou república.
A verdade
não está nas palavras, que muitas vezes traem o pensamento, mas na essência das
coisas e dos seres, cuja intimidade só o silêncio reflexivo permite penetrar. O
silêncio é a eloquência da vida (AA 83).
Venho aqui
apenas como Irmão
Porque falta ainda muita viagem por cumprir para
tratarmos o outro como o próximo, o vizinho, o conterrâneo, o compatriota, o
irmão. Sobretudo, quando, para muitos donos do poder, o
pensamento passou a ser argumento
retórico da ordem estabelecida (posita
in civitate), perdendo o Norte da justiça, e a raiz da pátria. Isto é,
padece de universalismo e de tradição.
A
Ordem Maçónica é um
espaço de diálogo fraterno entre pessoas de todas as ideologias democráticas (AA
11)
A verdadeira ordem é a ordem justa. Onde o
direito tem de voltar a ser o fundamento,
o limite e o fim do poder (como disse em 2005).
No
princípio estão os princípios
Porque no princípio, estão os princípios,
aquela procura da felicidade que é ir além da autarquia, a que apenas visa o
bem-estar e a segurança, em busca da boa
sociedade, a que é norteada pela justiça. Uma polis suficientemente grande para gerar governabilidade, e
suficientemente pequena para permitir a cidadania/participação. Para conciliar
o poder e a liberdade, a comunidade e o amor (2005).
Ao longo da História….os Maçons cometeram muitos erros e, alguns, adoraram mesmo o bezerro de ouro … (AA 11).
Política,
direito e economia
Política, direito e economia são parcelas
de uma mesma ciência da ordem, enquanto ciência arquitetónica. Onde a procura da verdadeira ordem impõe que
se vá além da mera ordenação da
conjuntura. Porque existe o perigo das elites espiritualmente imaturas, sem
rigor espiritual e sem disciplina analítica. Onde a doxa veste o hábito da episteme.
Porque o hábito não faz o monge e o palavrar demagógico salta para fora da polis (2005).
A
verdade
A verdade só vem dos que aprenderam a pensar pela
conversão interior. Porque, se eu disser ordem, posso pensar no mero ordinalismo autoritário da ordem
externa, da ordem pela ordem, do mero
equilíbrio mecânico de um status, de
um situacionismo que nos dê segurança sem justiça, como o salus populi leviatânico, da Razão
de Estado ou do desenvolvimentismo (2005).
A Maçonaria foi perseguida e
caluniada (AA10).
Procura
da ordem
A terapia da procura da ordem implica a abertura
amorosa da alma ao fundamento da sua ordem, que está além do modelo decretino das grandes ideias em sistema.
Há, portanto, que denunciar o domínio da ciência da política pelo método
empírico-analítico de um sociologismo neopositivista, justificado pelas ilusões
da hiperinformação contemporânea
(2005).
Ditadura
dos perguntadores
Há que recusar as proibições do perguntar,
esse fechamento contra a ratio. Que
equivale a uma desordem. Porque a ditadura dos perguntadores apenas nos permite
a ratificação plebiscitária. Há que ser contra a ideia do homem como objeto em
construção, dessa ilusão de um homem novo
contra o homem de sempre (Leonardo
Coimbra), nesse desfazer o mistério do transcendente, decretando-se uma
ideologia segundo a qual o homem solitário pode ser maître et seigneur de la nature (2005).
O
maçon constrói o seu futuro tornando-se um homem melhor. A Maçonaria constrói o
futuro da Humanidade, tornando-se mais justa e perfeita (AA
15).
A
invenção da política
Há que rejeitar o método da pirâmide
conceitual que nos faz engenheiros de definições e conceitos supra-infra-ordenados, dependentes de um
qualquer vértice ideológico, concebido como matriz. Logo, importa denunciar a
redução da razão ao estreito racionalismo, essa impostura intelectual da
não-essência e da não-sabedoria. Porque a consequência é uma ideia de revolução
do processo histórico. Dos amanhãs que cantam. Das vanguardas. Da intelligentzia. Onde a linguagem pode
ser filosófica, mas não a sua substância e não a sua intenção.
Comte,
Marx e Nietzsche
Os três subsolos filosóficos no século XIX (Comte, Marx e Nietzsche)
produziram as sete principais ideologias no século XX (Progressismo,
Positivismo, Marxismo, Psicanálise, Comunismo, Fascismo e Nazismo) que,
paradoxalmente, geraram movimentos de
massas de elites, porque os intelectuais podem ser massificados, nessa
identificação entre gnósticos e revolucionários (2005).
Da
Razão de Estado ao Estado-razão
O Estado deixou de ser Razão de Estado e tornou a ser Estado-Razão e o direito passou do
decreto do vertical absolutismo à lei vinda do povo. Até porque também nunca
houve povo no poder e, consequentemente, democracia. Não houve nem vai haver.
Ontem e hoje. Aqui e em qualquer lado, onde haja o dever ser que é a chamamos justiça e que não se confunde com o
burocrata que diz ser ele esse serviço em figura humana (2009).
É preciso “quebrantar” essas cadeias
e “desagrilhoar Prometeu”, como disse António Sérgio (AA
73)
N'ayez
pas peur
Quando uma determinada
sociedade se organiza politicamente, têm de surgir regras básicas, ou estatutos
fundamentais, verbalmente formalizados ou não, que regulem o modelo orgânico de
comunidades políticas. Isto é, tal como onde está a sociedade está o direito (ubi
societas, ibi jus), eis que onde está o político tem de estar um
estatuto jurídico do político (Castanheira Neves), tem de existir
uma constituição, expressão que, sem esforço, podemos fazer equivaler tanto à politeia grega como às antigas leis fundamentais das comunidades políticas pré-modernas (2006).
Ideia
de luta pela constituição
Há uma ideia de luta pela Constituição, enquanto procura de um fundamento para o
poder e para a fixação de concretos limites do respetivo exercício, que se
perde nas raízes da nossa civilização ocidental e se identifica com a própria
liberdade europeia, traduzindo um longo processo de institucionalização do
poder e de juridificação da política. Por isso, pouco me interessa essa tarefa minúscula e platónica de
fabricar Constituições... de
que falava Basílio Teles, com a consequente glorificação quase necrológica de
constituintes e constitucionalistas, porque é mais importante a criatura do que os eventuais criadores. Porque, nestes trinta anos, a
principal homenagem que devemos prestar não é ao texto, mas antes ao espírito que o produziu e que,
comunitariamente, o consolidou, neste péssimo
regime que, contudo, é o menos
péssimo de todos quantos temos experimentado (2006).
Não
tenhais medo
Porque nós
inventámos o Estado de Direito, para
deixarmos de ter um dono, parafraseando Plínio. Basta que não tenhamos
medo, conforme o projeto de Étienne la Boétie: n'ayez pas peur, na servitude
volontaire o grande
ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhe dá, um poder que vem da volonté de servir das multidões que ficam fascinadas e
seduzidas por um só (2006).
Num tempo despojado de valores ético-sociais,
dominado por um capitalismo infrene, sem alma nem regras, que enredou o homem
em novas e mais sofisticadas servidões, o que pode e deve fazer a Ordem
maçónica para transformar o mundo de selvagem em humano? (AA
74).
A raiz moral da política
A raiz
essencial de qualquer comunidade política é a ciência dos atos do homem como indivíduo, a chamada moral, segundo
a qual a principal regra social é a autonomia, aquela que cada um cria, para
si, e para os seus, e que está sujeita ao simples tribunal da consciência e à
sanção do remorso, tendo como principal constituição o exemplo de vida que a
conduta pessoal de cada um deve inspirar. A tal coisa a que Kant chamou imperativo categórico, a razão prática que pode transformar as
nossas condutas numa espécie de lei
universal (2006).
Quando
as regras são espontaneamente cumpridas
Não devemos trazer para a
praça pública aquilo que, para ser eficaz, não deve sair do espaço da
intimidade familiar e, muito menos, passá-lo para os adros da igreja ou para o
largo do pelourinho. Como jurista que continuo a ser, embora dessa ciência não
faça modo de vida, até diria que a melhor sociedade é aquela onde todas as
regras são espontaneamente cumpridas, onde as tais questões de consciência não
precisam do chanfalho da guarda, dos manuais e códigos de processo penal e das
grades prisionais (2006).
Mínimo ético
O direito não é a vida. Cobre apenas
o espaço das relações jurídicas, isto
é, daquela minoria das relações sociais, as que são legislativamente
selecionadas, e coativamente protegidas, pelo monopólio da violência legítima a que se chama Estado (Max Weber).
Logo, a licitude nem sequer corresponde ao tal mínimo ético, dessa ilusão de deixarmos para os detentores do poder
a definição de códigos de conduta que devem caber apenas às autonomias
individuais e grupais e são insuscetíveis de captura pelo decretino, pelo que vêm do vértice para a planície dos súbditos
(2009).
Moral e direito
Moral e direito não são círculos
concêntricos, apenas coincidem nalguns segmentos. Aqui e agora foram totalmente
confundidos pela vídeopoder. E às
vezes, até continuam a ser medidos pelos preconceitos do racismo social e castífero que nos encarquilha (2009).
O livre pensamento e a tolerância são conquistas da
civilização que a Maçonaria ajudou a consolidar. E são, verdadeiramente,
valores cristãos essenciais à convivência e à paz social (AA 72)
Homem religioso
Sendo
um homem religioso, mas sem Igreja, nada ateísta e pouco agnóstico, mantenho o
panteísmo de Espinosa, Kant, Krause e Ahrens, isto é, de velho liberal. Sinto pertencer a um mundo antigo que
pode ser amanhã, quando as unidades político-culturais voltarem a ser feitas de
muitas diferenças; a pátria, de muitas pequenas pátrias; e um povo, de muitos
povos (2009).
Seitas
As seitas não passam de rebanhos de diletos de um abstrato super-senhor e apenas reagem a
exterioridades, mesmo que se disfarcem em rituais, sobretudo quando estes
perderam o sentido litúrgico. Nas
seitas já não há sacerdotes, mas apenas sacristães e sacristas. Nem sequer há
mestres, mas apenas lentes,
repetidores da vulgata, tornando-se movimentos que procuram assumir o monopólio
do espírito, da vida e do próprio bem, só porque alguns exibem uma contrafacção
da chave da verdade, dizendo ser o caminho (2009).
Catecismos
unicitários
Odeio catecismos e
formulários, bem como os seminaristas de
cordel que procuram transformar-se em cardeais
da propaganda da falsa fé e comandantes de uma nova Inquisição que nos quer a
todos relaxar para o braço secular da persiganga.
Os que retomam a hermenêutica disciplinada da unicidade, preferem a
liturgia da subserviência, à religiosidade da libertação. Até nem compreendem
que só há pátria quando se cultivam as complexas heranças que nos sagraram o
chão moral da história e da terra dos mortos, com as suas árvores, catedrais,
rios, cabos e montes (2009).
Pode-se eliminar as
pessoas, e algumas foram mesmo eliminadas, e destruir os bens, mas não podem
erradicar as ideias, sobretudo as ideias generosas que visam a libertação do
homem, e são tão velhas como a própria Humanidade (AA 58)
Heresia
A heresia continua a ser a única forma criativa de
fecundarmos esta encruzilhada repleta de dejetos exotéricos. Porque a revolta
individual, dos que procuram, é o que mais se aproxima daquela imagem e semelhança de um homem
qualquer, como ser que nunca se repete,
vivendo circunstâncias que também
nunca são iguais (2009).
Heterodoxia
Há um
Deus que pode nascer, todos os dias, dentro de cada um de nós. Porque, às
vezes, é na rebeldia que está a lealdade, nessa suprema ortodoxia do
heterodoxo, do que não quer perder-se no rebanho seguidista. Deus pode ser o
mundo e haver mais mundos, sobretudo aqueles que continuam a criação, dando novos mundos ao mundo (2009).
Moralização da política
A
pior das crises políticas é aquela onde nem sequer é possível uma
consensualização quanto às próprias causas da situação, pelo que pode ter de
tomar-se um remédio que alivia a dor, mas mantém a epidemia. Também no último
quartel do século XIX, nos enrodilhámos em decadência
e a crise levou décadas, infestando a República. Todos os sinais que nos chegam
apontam para que se mantenha esta anarquia
mansa e apenas se dê nova forma à permanente ditadura da incompetência. E isto porque não assumimos a
necessidade de uma efetiva moralização
da política (2005).
Homem de sucesso da amoralidade
Desde
que o hobbesiano homem de sucesso
passou a balbuciar o falso evangelho de um certo olitiques, onde se considera que tem razão quem vence, criou-se, não uma imoralidade generalizada
dos detentores de cargos políticos, mas uma efetiva amoralidade, a que deram o nome de política pura (2005).
A
maçonaria congrega homens livres de
várias correntes democráticas, empenhadas na defesa dos nobres valores que são
o santo-e-senha da sua força ancestral, e o cimento aglutinador para a
construção do futuro (AA 59).
Memória e valores
Um
povo é uma comunidade de significações
partilhadas (Karl Deutsch) e uma pátria, uma comunhão em torno das coisas que se amam (Santo Agostinho), tal como
a autonomia é a soma da memória com os valores. Daí que o verdadeiro poder
político seja um complexo de práticas
materiais e simbólicas destinadas à produção do consenso (Max Weber)
(2006).
Misticismo
Logo,
alma da nação, que tanto pode ser a alma nacional da revista republicana de
António José de Almeida, surgida em 1910, como as contemporâneas alma lusitana, de Teixeira de Pascoaes,
ou a pré-integralista e ultramonárquica alma
portuguesa, nascida pouco depois, no exílio belga de Luís de Almeida Braga.
A história imaginada é mais ativa do que a história objetiva. Porque todos os
povos fabricam uma representação histórica da sua própria personalidade, para
justificarem a existência de comunidades de sonhos (2006).
Símbolo e cultura
A
pátria não é apenas a ideologia que justifica a ordem estabelecida, ou a utopia
que a subverte, mas a terceira potência
da alma (Platão), a imaginação,
que vai além da razão e da vontade. Porque o tal imaginário
atravessa o discurso racional, ordena o respetivo simbolismo e desconstrói a
sua pretensa lógica. Porque quando penso que penso, não sou apenas o eu que pensa, mas também os que pensaram
antes de mim, para que eu me sinta pequena onda de uma corrente que me
ultrapassa (2006).
Como a qualidade de maçon constituía currículo
preferencial para aceder aos altos cargos do governo, do parlamento e da
administração, começaram a ingressar na Ordem muitos políticos oportunistas,
sem espírito maçónico. A história haveria de repetir-se após a Revolução de
Abril de 1974 (AA 56)
O direito, a política e a justiça
Sinto o
apelo para a reconstrução de uma ciência da polis
capaz de procurar o bonum honestum,
essa união de esforços que, entre outras coisas, investigue a paz pelo direito,
a moralização da política, o reencontro do homem com o cosmos, e, quiçá, a
religação com Deus (2007).
Justiça
O direito, a política e,
consequentemente, a ciência jurídica e a ciência política, são filhas de uma
unitária ciência da polis, mobilizada
em torno de um valor supremo: a justiça. Assim, todos aqueles que procuram ser
fiéis às raízes greco-latinas da liberdade europeia e se assumem como herdeiros
tanto do humanismo cristão como do humanismo laico do ius publicum europeu, não podem deixar de cultivar esses terrenos
de fronteira (2007).
Juridificação da política
O próprio
Estado de Direito, quando proclama que o direito é o fundamento e o limite do
poder, exprime essa necessária mobilização entre todos os que estudam os
problemas do direito e do político e tendem a professar a deontologia justicialista
que deles emana. Parafraseando Blandine Kriegel, podemos dizer que, em virtude
da interpenetração entre o direito e a política, porque o direito quer juridificar a política e institucionalizar o
poder, eis que o jurista encontra a política quando procura o direito, tal
como o politólogo depara com o direito quando procura a política, pelo que urge
pensar a política em termos de direito e descobrir que a mesma política é
objecto do direito (2007).
Cosmos
Aquilo a que
muitos hoje chamam direito era, na Grécia antiga, identificado com a política,
isto é, que o poder organizado, numa boa sociedade, tem necessariamente de
ser ordenado por um direito que seja superior ao poder. Talvez haja uma
homologia entre o direito, a política e o próprio sagrado. Porque todos
procuram uma ordem que os unifica, a ordo
rerum, o kosmos. Norteia-nos, com
efeito, aquela base neoclássica que tenta decifrar o mistério das tais ordens
que emergem de processos autoconstituintes
residentes no interior das sociedades. Tem
sempre presente que não és responsável pelo mal que fizeres, mas pelo bem que
deixastes de fazer. Faz o bem pelo amor do próprio bem (2007).
…congregando a Maçonaria pessoas de todas as
ideologias democráticas, não deve, como tal, intrometer-se na vida político-partidária,
como aliás, resulta imperativamente da Constituição em vigor (AA 51)
Quanto mais poético, mais real
Os
merceeiros e os enjoados, que nos condicionam, não assumem que é possível
subverter a realidade através da metalinguagem e das erráticas metáforas. Não
compreendem esse quanto mais poético,
mais real, cantado por Novalis. Porque a via do transcendente sempre esteve
mais situada nas circunstâncias do lugar e do tempo, do que as utopias e
ucronias, em que se enreda o pretenso cientismo, aquele que determina só
existir aquilo que se pode medir, como as rígidas réguas dos paradigmas, sempre
ultrapassáveis (2011).
Lume da profecia
Quem
procura manejar o lume da profecia,
sem o fazer esvoaçar fora do lume da
razão, conforme expressões do Padre António Vieira, vive sempre fora do
tempo dominante, sobretudo quando tenta conjugar o eterno, longe dos que se
enredam no paralelogramo de forças do passado, sem as necessárias saudades de futuro. Não subscrevem
aquele dito do mesmo jesuíta da Restauração, segundo o qual só há o verdadeiro fora do tempo. Ou
melhor: fora daquilo que os donos do poder
absoluto e da pretensa ciência certa
decretam como suas verdades incontestáveis (2011).
Pensar é dizer não
A
realidade sempre foi subvertida pelas autonomias, pessoais e comunitárias,
quando estas assumem que, no princípio,
tem de estar o fim, o tal dever ser
que é, das essências que apenas se realizam pelas existências. Todos os decretinos processadores, em nome da
ideologia ou do vértice hierárquico, do ministerialismo, com os seus
sucedâneos, diretoristas,
presidencialistas ou rectorísticos,
temem os que praticam o pensar é dizer
não, como dizia Alain. Ou que a revolta
é bem mais fecunda que a revolução,
como vai acrescentar Albert Camus (2011).
… a própria Maçonaria deve, em casos
excecionais, ter uma intervenção pública, sempre discreta e moralmente
irrepreensível. Quando estão em causa direitos humanos fundamentais, a
identidade nacional, a cidadania, ou a falta de ética política com as
inevitáveis consequências do nepotismo, corrupção e degradação das
instituições, impõe-se uma palavra avisada e justa, em coerência com os valores
que sustentam as colunas do Templo (AA 40).
Resistência individual
Quem
experimentou as garras do saneamento e do processamento da persiganga não pode admitir que o rolo unidimensional do
conformismo nos faça enjoar, sobretudo nesta praia da Europa que sempre foi partida para todas as sete partidas. O sinal do nosso futuro
continua a passar pela resistência individual e pelo pensamento crítico da liberdade. A essência do homem ocidental
sempre foi o individual do indiviso, que é expressão da fundamental dignidade da pessoa humana. Mesmo quando
se rejeitam as normalizações impostas pelos pretensos antidogmáticos,
neodogmáticos, como esses que, perante certo situacionismo, proclamam que têm o
monopólio da contestação e assim nos desmobilizam. Os bobos da demagogia, da
tirania e da mentira podem alimentar-se desses irmãos-inimigos. Quem quiser
continuar mesmo do contra tem que
procurar o mais além e antecipar o tempo da revolta (2011).
…o conteúdo do segredo não é tanto o
que se vê e ouve, mas o que se sente (AA 38).
Ordem verdadeira
A opinião dominante, nem por
dominar, deixa de ser conjuntural. E a ordem
verdadeira não pode estar dependente da flutuação em torno do ideal conjuntural da sociedade, como
ensinava Leo Strauss. Porque tem de haver um padrão superior à opinião
dominante, mesmo que esta seja uma justificável aliança dos mais débeis contra a injusta dominação dos mais fortes. Ama
os bons, anima os fracos, foge dos maus, mas não odeies ninguém (2007).
Lei universal do justo e do injusto
Há uma lei
universal do justo e do injusto, um padrão que não serve apenas para aferir da
validade do direito estabelecido, posto, positivo, mas algo mais global, que
também é mais elevado que o ideal mutável da nossa sociedade. Há no homem
qualquer coisa que não está sujeita à sua sociedade e, por conseguinte, somos
capazes, e portanto, obrigados, a procurar um padrão que nos permita julgar o ideal
da nossa sociedade ou de qualquer outra (2007).
Conceito socrático de natureza
O padrão que
talvez corresponda ao conceito socrático de natureza, a coisa na sua inteireza
ou perfeição. E até se não identifica com a ideia de ser bom aquilo que é antigo, dado que este tipo de natureza é
sempre mais antigo do que aquilo que foi estabelecido pelos fundadores de uma
determinada comunidade, prendendo-se com a própria ordem eterna. Escuta a voz da natureza, que te brada:
todos os homens são iguais: todos constituem uma única família (2007).
Há uma argamassa que, desde há milénios, sustenta
simbolicamente o Templo de Salomão – a procura da palavra perdida (AA 39)
O direito da
razão
Neste sentido, o direito da razão
é sempre equivalente à procura do melhor
regime (politeia ou
respublica),
contrariando certa tendência da modernidade, de extração maquiavélica, que
considerando a realização como altamente improvável, tratou de baixar os níveis
e de considerar que o dever ser
poderia ser realizado em qualquer parte. Procede
sempre de forma que a razão fique do teu lado (2007).
Em nome de
mestre Rousseau
Muitos dos que vivem da faturação protetiva de anarquia ordenada, em nome de um
securitário de pronto-a-vestir, estão
agora a dizer que a democracia corre o risco de ficar dependente da vontade das
maiorias, atirando a culpa para o velho Jean-Jacques, conforme rezam algumas
vulgatas contrarrevolucionárias, as dos tradicionais inimigos da mesma
democracia (2008).
Vontade
geral
Admirador incontido do Contrato Social,
uma das maravilhas da teoria política, resta-me reler as interpretações que
dele fazem um Eric Weil, reconciliando-o com Hegel, ou um Karl Deutsch, que o
faz conjugar com Kant. Até em Portugal, o nosso melhor teórico da democracia do
século XX, António Sérgio, retomando a senda, não deixou de assinalar a enorme
diferença que vai da quantitativa vontade
de todos, quando todos decidem motivados pelo interesse de cada um, à
sagrada vontade geral, a única que
deveria ser verdadeiramente soberana. Quando cada um, ascendendo ao todo,
através de uma conversão cívica, abdica dos seus interesses, transformando a
sua própria conduta num exemplo moral, numa máxima
universal, naquilo que Kant, o verdadeiro discípulo de Rousseau, vai
qualificar como o imperativo categórico
(2008).
Autonomia
individual
A verdadeira democracia só existe quando, através da
liberdade do indivíduo, este lhe dá as raízes morais da sua própria autonomia.
Logo, não há democracia sem esse esforço de cada um dar regras a si mesmo, no
sentido de procura da perfeição e da consequente compreensão da coisa pública
como um moi commun. Moraliza pelo exemplo; sê obsequioso; tolera
todas as crenças e todos os cultos, mas tem por dever lutar contra a
superstição, o fanatismo e a reação, como os mais resistentes obstáculos ao
progresso humano (2008).
Liberdade,
igualdade, fraternidade
É dessa sucessão de decisões individuais, onde cada um
se assume como o todo, que nasce a norma fundamental das comunidades políticas
democráticas, casando-se o impulso liberdadeiro
com o profundíssimo sentido da igualdade,
através daquela comunhão identitária que é exigida pela virtude da fraternidade. Sempre foi este o sonho
girondino que o ativismo minoritário de certos jacobinos procurou dissipar com
o curto-circuito do Terror e, depois,
com a usurpação bonapartista. Foi esta a revolução francesa que triunfou a
partir de 1815 com a moderação
cartista da balança de poderes, ou
com a Revolução de Julho de 1830, quando a racionalidade liberal se conciliou
definitivamente com a procura maioritária da igualdade (2008).
Pluralismo e
demoliberalismo
Mais não dizem os recentes consensos das democracias
pluralistas, entre a poliarquia, o sufrágio universal e o Estado de Direito,
conforme também subscreveram um John Rawls ou um Jűrgen Habermas, já depois da queda do Muro. Isto é, a democracia há
muito que é demoliberal, com séculos de experimentação e de conciliação da revolução atlântica com velhos
contraditores, como o foram, a partir de 1848, o socialismo e a democracia
cristã. E como o poderão ser ex-comunistas e ex-fascistas, se tiverem a
humildade de, para tanto, contribuírem, pelo exemplo de vida cívica (2008).
O melhor
regime
Não haverá democracia como valor universal se não reinterpretarmos o
sentido regulativo do contrato social
de Rousseau, à boa maneira da procura do melhor
regime (politeia) de Platão, ou
da ideia romana de república, segundo
o ritmo de Cícero. Foi o que semeou São Tomás de Aquino, até que Leão XIII
emitiu a Rerum Novarum, mas em 15 de
Maio de 1891 (2008).
Civilizações
universais
Porque todas as civilizações universais são filosoficamente contemporâneas no
intemporal, todas têm as mesmas raízes do político e todas podem encontrar
experimentações similares, em termos de mais liberdade, mais igualdade
e mais fraternidade. Se houver homens
que admitam o regresso dos deuses do espírito às nossas cidades antigas, pode voltar a ser conjugado o velho princípio
tomista do QOT, adotado pelas Cortes de Coimbra em 1385: o que a todos diz respeito, por todos deve ser decidido (2008).
Natureza
das coisas
Os únicos realistas em Portugal são os
adeptos do trancendentalismo da matéria,
aqueles ideais-realistas que seguem a
natureza das coisas. Porque o natural sempre foi o mesmo do que o dever ser, onde, segundo o conceito
grego e jusracionalista, natureza é
sinónimo de razão, de procura da
perfeição e do melhor regime (2005).
Teórico
O
teórico é apenas o homem maduro, isto
é, o que repensa pela própria cabeça o pensamento dos outros, o que compreende, prendendo uma coisa com outra, folha com folha, árvore com árvore,
para poder ter a intuição da essência
daquilo que é todo, mesmo que seja a alma da floresta (2005).
Polícias de
ideias, nunca mais!
Já não está em vigor o conceito sovietista de contrarrevolucionário,
com direito a ingresso no Gulag, ou do hitleriano Gegenreich, com
bilhete para o exílio ou para o campo de concentração. Contudo, estamos a
assistir à tradução em calão de movimentos exógenos, como
consequência da própria integração europeia, invocando-se nacionalismos estrangeirados,
contrários à ecologia da pátria portuguesa (2010).
Intolerância,
fanatismo e ignorância
A sociedade pluralista e aberta do atual Estado de
Direito assenta em valores que têm como adversários a intolerância, o fanatismo e
a ignorância, mas nem por isso pode
proibir ideias que defendam os mesmos antivalores.
Porque houve ilustres filósofos e pensadores adeptos do totalitarismo no século
XX e seria estúpido passá-los pelo silêncio (2010).
Partidocracia
A democracia pode ser
usurpada pela partidocracia, uma gangrena do Estado (Lorenzo
Caboara), e tal sistema enredar o regime, especialmente quando somos marcados
pelo abuso de posição dominante dos representantes das principais
multinacionais partidárias da Europa... (2010).
TINA
Se, com a vitória da
Aliança Democrática, a partir de 1980, encerrámos o fatalismo do partido-sistema da I República, quando
Mário Soares e o PS se visionavam como o partido-sistema
da revolução institucionalizada, à
maneira de Afonso, clamando pela TINA (there
is no alternative), mantivemos, contudo, o atavismo de certo rotativismo
devorista da monarquia liberal, alimentado pelo patrimonialismo das forças vivas (2010).
Um povo com fome de causas
O português comum não assume o dever ser como sítio sem lugar (utopia)
e sem tempo (ucronia). Prefere o Canto IX d' Os Lusíadas ou uma casa tipo maison,
na santa terrinha. Por isso, é um sonhador ativo e está farto de traduções em calão de democracias
exógenas. Importa que os partidos dominantes compreendam que há um povo com
fome de causas e uma pulsão para a solidariedade. Faltam é engenheiros de
sonhos que nos mobilizem e assumam as nossas visões de paraíso bem terráqueas, da procura, no aqui e agora, da beatitude celeste, como Sérgio Buarque
de Holanda caracterizou aquele que Manuel Bandeira qualificou como o português à solta (2010).
Pensar é
resistir
Pensar é resistir, ter a coragem de ser minoria, assumindo a atitude
daquele que, para estar de acordo consigo
mesmo, tem, por vezes, que entrar em desacordo com todos os outros, não
para épater le bourgeois, mas para servir a comunidade, mesmo que esta o
não reconheça no seu próprio tempo de vida. Sabe bem podermos subir ao nível
das discussões filosóficas, assentes na mera observação quotidiana, sem qualquer
pretensiosismo de academia ou de salão, nesse falar assente na refletida
experiência do bom senso (2011).
Emoção
Se o
fundamento da moral é a coerência, o da sociabilidade não pode deixar de
ser a igualdade. Porque a melhor plataforma de identidade assenta em gestos de
ternura. Quando a corrente que bilateralmente nos enlaça procura apetecer que
tudo seja para sempre (2011).
Ser radical
Confesso meu
temperamento de radical que se apaixona por causas e não entende a
racionalidade como um afrouxar das emoções. Como se os cinzentos de sempre,
como subalternos dos pelotões de fuzilamento, pudessem, alguma vez, ter o
prazer da criação. Porque não há direita, esquerda, extremos ou meio-termo. Há
vencedores e vencidos e quem vence, reparte o que ganhou à custa do lombo de
quem perdeu (2009).
Peregrino
Um peregrino, errante, nunca é apenas quem pensa que é, mesmo
dizendo que é isto ou outra coisa. É caminho de mais longa corrente, em que se
dilui e perde, para se sentir eterno. Não é apenas deste horizonte, mas também
de outros que sentiram em seu outrora o que, com outros, se sente, aqui e
agora. Só assim, em peregrino, se faz semente, no permanecente. A corrente é o
que nos prende e liberta, em união que se faz amor. Humildemente. Quando somos
comuns, isto é, iguais. Respeita o
viajante; auxilia-o; a sua pessoa é sagrada para ti (2012).
Cultura
Tudo o que é
acrescento da cultura é obra humana, isto é, contra natura. Aliás, entre as coisas que Deus fez, não estava a
política, um poema, a palavra escrita, ou a internet. Mas estava a liberdade de
fazermos regras para as podermos não cumprir, mesmo que Deus não exista, ou nem
sequer seja (2012).
Racionalidade axiológica
Perante a
desesperada falta de soluções da racionalidade
finalística, importa passear pelo tal lume
da profecia, a que Max Weber chamou racionalidade
axiológica. O recurso à violência estadual, mesmo na sua forma de guerra,
pela qual os homens continuam a optar, é sempre um mau conselho. Não vale a
pena escolhermos ainda mais guerra e até visualizarmos esse clímax da violência
institucional que é o uso ou a ameaça de uso daquilo a que demos o nome de absolute weapon, coisa que acontece
quando alguns têm a ilusão da nova forma de solução
final (2006).
Imaginação
Voltemos à
liberdade livre da imaginação como terceira
potência da alma (Platão), a que nos treina para a transgressão criativa da
rebeldia e da insolência do sonho. As crises de anarquia criativa podem
corresponder a incubações que precedem a chegada dessas mudanças dramáticas que
se traduzem pela bela quebra de fronteiras entre territórios até então hostis
(2006).
Colectivismo
moral de seita
Tudo parece continuar como dantes, entre
aqueles resignados cujo destino sempre foi admitir a hierarquia dos filhos e enteados, especialmente quando quem
manda depende do levantamento mediático que instrumentaliza o pedibola, ou que faz assentar o
financiamento partidário na barganha dos resultados e das arbitragens, nesse
conúbio mesquinho onde continua a pagar o
justo pelo pecador. E quase apetece passar para o estado de resistência
face aos hipócritas e falsários que, refugiados no coletivismo moral de seita em que se inscreveram, nos querem
condenar às grades da dependência (2007).
Sociedade
de corte
Os restos da sociedade
de corte provindos do salazarismo têm redobrado de atividade. Sabem que o
poder em Portugal não é uma coisa que se
conquiste, mas uma teia de relações de cumplicidade. Utilizando a linguagem
de Michel Foucault, podemos dizer que há uma rede de micropoderes, de poderes centrífugos, locais, familiares e
regionais, com uma variedade de conflitos, dotados de articulações horizontais,
onde também surge uma articulação vertical, uma integração institucional dos
poderes múltiplos tendente para um centro político, para um poder centrípeto (2007).
Poderes
difusos
Entre esses vários micropoderes,
feudais e patriarcais, importa salientar os chamados poderes difusos que actuam pela persuasão e pela sedução, onde,
para além dos controlos dos meios de comunicação social, há que salientar os
gestores de conversas de salão, gabinete e conferências, desses pretensos gurus que, pintando-se de mahatmas, não passam de almas
policiescas, ávidas do caceteirismo expurgatório. Por mim, resisto àquilo que
Michael Mann qualificou como poder
infra-estrutural (2007).
Todos os símbolos são ridículos
Parafraseando Fernando Pessoa, podemos dizer que todas as cartas de amor são ridículas.
Mas mais ridículo ainda é não se conseguir escrever uma carta de amor. Com os
símbolos, as pátrias, as religiões e as liturgias, todas ridículas, os que
estão de fora até podem dizer o que os chineses diziam dos primeiros
portugueses que os visitaram: uns
bárbaros, isto é, diabos vermelhos,
porque trincavam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), que eles não usavam. Tal
como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus
cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem e eram adoradores de antigos símbolos de tortura. Por causa da Cruz
e das hóstias, ditas corpo do assassinado que ressuscitou. Sem essas e outras
coisas ridículas, os homens morreriam todos de frio, por falta de alma. É o que fazem todos os que são marcados
pela incompreensão face aos símbolos
decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. Não
te envergonhes de confessar os teus erros; provarás assim que és hoje mais
sensato do que eras ontem e que desejas aperfeiçoar-te (2011).
Símbolos
Grande
parte das coisas políticas tem a ver com as realidades que não se conseguem
vislumbrar sem símbolos. E todos os símbolos, como a pátria ou a humanidade,
são coisas que se amam. Desde 1717 que qualquer sociedade liberal ou
democrática sabe, como alguns proclamados liberais e democratas parecem
desconhecer, que uma sociedade secreta
iniciática não pode ser uma sociedade
secreta política. Sempre que se confundem os planos, de um lado e de outro,
há um risco de regresso à tirania
(2011).
O
sectarismo que monopoliza o sagrado
Detesto todo o sectarismo que pretende
monopolizar o sagrado para a respetiva liturgia e que, fradescamente, semeia a intolerância,
insinuando o escárnio face as alfaias que os outros usam para os mesmos fins.
Afinal, todas as liturgias são ridículas fora dos templos em que se dá a
comunhão e a religação. Contudo, mais ridículos ainda são os que não têm
liturgia sentida por dentro, ou os que se ficam pelos sucedâneos e pelas
vulgatas de certo dogmatismo pretensamente antidogmático (2011).
A
Maçonaria quer despertar no Homem o sentido do eterno (AA
11)
Verdades eternas
Sobre
as verdades eternas, apenas sei que nada
sei, restando-me continuar a procura da verdade, pelos variados caminhos
que segue aquele que apenas pretende ter a boa
vontade de conquistar a glória do homem
livre. Porque ninguém pode deter o monopólio do imprimatur e do nihil obstat,
para a edição desses manuais de metodologia, com os consequentes livros únicos dos inquisidores,
vanguardistas, vigilantes da revolução, ou contínuos e sargentos do senhor diretor (2011).
Um
pouco de metapolítica
Hoje, como todos os dias, quando eles
são de viver cada dia como se fosse o último,
é dia de nascer de novo, de
regenerar, de olhar de frente o sol.
Comecemos por abrir as janelas para deixar entrar o ar. Renascer pelos símbolos
sempre foi velho conselho de há vinte e cinco séculos. Mesmo que não se
resolvam os mistérios. Bom dia, luz, que trazes o irmão sol do meu querido São Francisco! (2009).
Não
há liberdade sem metafísica
Nas democracias
pluricentenárias, implantadas por homens
livres e de bons costumes, não pode haver sociedades secretas para efeitos
políticos e económicos. E aí de quem as confunde com sociedades secretas iniciáticas. Em situações totalitárias e
autoritárias, ainda bem que existem sociedades
secretas de resistência. E até golpes de Estado libertadores. O verdadeiro culto consiste nos bons
costumes e na prática das virtudes (2011).
As
grandes crenças universais
Há dois mil anos e tal que os
cristãos, repetindo o que já esboçavam estoicos e confucianos, mandam amar o próximo como a nós mesmos e não fazer aos outros o que não queremos que
nos façam a nós. Mas ainda hoje, cada um de nós violou essa norma mínima da
faceta moral de todas as grandes religiões e crenças universais. A culpa não
está na norma, nem nas organizações que a defendem. Está na natureza do ser
humano. Daquele que todos os dias cai, mas que, sem essa norma, não poderia
levantar-se (2011).
A
democracia como dever ser que é
Com a democracia, que não
é um facto, mas uma norma desse género, passa-se o mesmo. É um dever ser que é, o imperfeito que manda
procurar a perfeição. E que aperfeiçoa, pela boa educação. Não há verdadeira liberdade sem metafísica. Nem homem
sem transcendente, mesmo na perspetiva ateia. O homem não passa de um transcendente situado que alguns
traduzem por transcendente por espírito.
Outros também podem dizer Deus ou deuses. Não interessam os nomes. Vale mais a
coisa nomeada e sentida por dentro. Sou um homem religioso, mesmo sem religião revelada (2011).
Todos os símbolos são ridículos
Parafraseando Fernando Pessoa, podemos dizer que todas as cartas de amor são ridículas.
Mas mais ridículo ainda é não se conseguir escrever uma carta de amor. Com os
símbolos, as pátrias, as religiões e as liturgias, todas ridículas, os que
estão de fora até podem dizer o que os chineses diziam dos primeiros
portugueses que os visitaram: uns
bárbaros, isto é, diabos vermelhos,
porque trincavam pedras (pão) e bebiam sangue (vinho), que eles não usavam. Tal
como outros povos diziam que os cristãos eram antropófagos porque, em seus
cerimoniais, comiam o corpo de um deus feito homem e eram adoradores de antigos símbolos de tortura. Por causa da Cruz
e das hóstias, ditas corpo do assassinado que ressuscitou. Sem essas e outras
coisas ridículas, os homens morreriam todos de frio, por falta de alma. É o que fazem todos os que são marcados
pela incompreensão face aos símbolos
decepados da unidade espiritual de que os rituais são simples parcela. Não
te envergonhes de confessar os teus erros; provarás assim que és hoje mais
sensato do que eras ontem e que desejas aperfeiçoar-te (2011).